sábado, 20 de junho de 2009

As armas do Verão

Escuta a palpitação do espaço
são os passos da estação no cio
sobre as brasas do ano

Rumor de asas e de guizos
tambores longínquos do aguaceiro
crepitação e respiração da terra
sob suas vestes de insectos e raízes

A sede desperta e constrói
suas grandes gaiolas de vidro
onde tua nudez é água encadeada
água que canta e se desencadeia

Armada com as armas do Verão
entras em meu quarto e em minha fronte
e desatas o rio da linguagem
olha-te nestas rápidas palavras

O dia queima-se pouco a pouco
sobre a paisagem abolida
tua sombra é um país de pássaros
que o sol dissipa com um gesto


Octávio Paz
Tradução de Luís Pignatelli
Antologia Poética, Dom Quixote

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