quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Bissau


Outubro de 2009. Ao fim de 3 ou 4 tentativas, nos últimos 2 anos, para me deslocar a Bissau, finalmente tinha conseguido. Enorme expectativa por um país que, embora desconhecido, me parecia conhecer desde há muito.
Uma história rica, como é a de toda a África, e uma enorme diversidade étnica para um país de pouco mais de 35 mil Km2 e uma população da ordem dos 1,5 a 1,6 milhões de habitantes.

Mas, afinal, o que me esperava em Bissau agora que a acalmia política parece ter chegado?

O avião está repleto, de gentes e sacos, e são várias as línguas e dicções que se ouvem. Chegada ao Aeroporto de Bissau, de madrugada e com muito calor, alguma ordem nas filas dos passaportes, uma grande sala de desembarque e muito menos confusão do que eu alguma vez esperava.

Em pouco mais de 2 horas chegamos a uma residencial - ou será hotel? -, com um traço das misturas que Portugal foi tecendo e desfazendo ao longo dos anos. Senti-me em África e em casa.

Não é apenas a humidade que se entranha no nosso corpo, mas também a diversidade do seu povo, a alegria do Mercado de Bandim – onde tudo se vende – , o desespero dos que aguardam ser atendidos no Hospital Simão Mendes, o olhar distante e sem esperança dos ex-militares que vivem na Fortaleza, guardando o túmulo de Amílcar Cabral, o sorriso rasgado das crianças, vendendo aos copos amendoim e castanha de caju de um tempo sem resposta e perguntando se podem ser nossas amigas...

Afinal, o que se passa aqui? Como se explica a violência que de repente irrompe na cidade e que logo acalma e que parece, dizem, deixar os estrangeiros de fora?

Se falamos das pessoas, o que podemos dizer da arquitectura? Alguns prédios dos finais dos anos 60, inícios dos anos 70 – a modernidade colonial – uns (muito poucos) novos prédios e uma imagem retida: o centro velho de Bissau faz lembrar a velha Havana (a do centro e não a da marginal) com as cores, a estreiteza das ruas, as varandas e as portadas magníficas e lindas do tempo áureo do caju.

Desejo sempre aos meus amigos que visitam Africa pela primeira vez que cheguem num dia de chuva, pois nunca mais esquecerão o cheiro a terra e a vida. Entendi como um presságio de uma boa amizade com aquela cidade, quando, no dia da partida, não só choveu, como eu já não via há muitos anos, como ainda fui “agraciada”, por volta das 10 horas da noite, ao voltar ao hotel para recolher a mala, com um coro de jovens que ensaiava na Sé Catedral cantando com uma imensa alegria festejando – quem sabe – a felicidade de estarem juntos. Em Bissau.

Maria Hermínia Cabral
Economista

Fotografia de Miguel Viveiros

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