Passear no Cairo é uma experiência ímpar. Temos a sensação de que nos vamos perder no meio da população compacta a qualquer momento. Chegámos nos dias em que decorreu a ultima celebração religiosa do ano, as famílias reuniram-se para os festejos, a multidão tornou-se muito maior.
Caminhamos nas amplas ruas do centro do Cairo, a parte moderna da cidade. Não é uma zona bonita, mas é para onde convergem as principais ruas que imprimem o cunho europeísta que a cidade sofreu. No pouco espaço livre nos passeios, cruzamo-nos com vendedores ambulantes de doces e de batata-doce assada. Os cheiros adocicados flutuam no ar.
Entre as principais avenidas, destaca-se Corniche el Nil, junto ao Nilo. Nunca estive num sítio com tanta gente, famílias completas percorrem a avenida, grupos de jovens passeiam descontraídos e animados. Homens caminham de mãos dadas discutindo fervorosamente. Os cairotas são simpáticos, sorriem alegremente, os adolescentes arriscam um divertido “hallô” às ocidentais. No rio indolente os numerosos barcos, decorados com iluminações que lembram os nossos “carros de choques” garantem uma amálgama de cores na água.
O trânsito é simplesmente caótico, centenas de viaturas circulam pelas avenidas, misturados entre charretes e carroças puxadas por burros. É raro ver um carro que não esteja danificado, o barulho das buzinas é ensurdecedor.
Do cimo da Cidadela, fortaleza medieval que domina a cidade, fundada pelo lendário Saladino, temos uma das mais impressionantes vistas sobre a cidade. O Cairo não tem fim, é imenso. A cor, definitivamente é o ocre. Revela-se a floresta de minaretes e cúpulas que povoam a metrópole, os chamamentos dos imans cruzam-se no ar.
Descemos e dirigimo-nos para o Cairo islâmico. A primeira paragem é na mesquita de Al-Azhar, fundada pelos fatimidas em 970 é uma das mais antigas e emblemáticas. È igualmente um dos mais importantes centros de estudos islâmicos. Somos obrigadas a entrar de véu, é uma emoção muito forte. Lá dentro reza-se e estuda-se, os devotos são de todas as partes do planeta, temos o mundo à nossa frente.
De seguida vamos para um dos mais bazares do Médio Oriente, Khan al-Khalili. São centenas de lojas coloridas minúsculas, cortadas por ruas estreitas, onde tudo se vende. O barulho é indescritível, aliás, toda a cidade é barulhenta, o som da música é persistente. No meio das ruas descobrimos finalmente o mais emblemático café do bazar. Fishawi’s tem mais de duzentos anos, o café prolonga-se pela rua com os seus espelhos e cadeirões. É extremamente acolhedor e simpático, ocidentais e cairotas confraternizam entusiasticamente. Bebemos sumos de frutas aromatizados com especiarias, fuma-se a tradicional Sheesha. Ouvimos novamente o mais simpático piropo que se pode dizer a uma ocidental “you walk like an egyptian”.
Isabel Ricardo
Arqueóloga
Fotografia de Catarina Cordas
Espantoso, o Cairo! O Bazar, numa vertigem de cores e aromas; a Cidade dos Mortos, lar de mais de 1 milhão de vivos; o sorriso permanente, no pior trânsito do mundo; o sobressalto dos chamamentos para as orações. E alguém que levou a música dos Táxi. Uma inesquecível viagem ao Cairo...
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