Agora passados anos estou aqui defronte ao mar numa ilha cuja definição clássica é, mais do que nunca, pertinente: um pedaço de terra rodeado de água por todos os lados. Em frente, o oceano, imenso, de onde parece que nada chegará. À esquerda, no recorte de uma curta marginal, casas coloniais que ficaram do antigo império, dos tempos gloriosos e luxuriantes do cultivo do cacau. As casas estão em silêncio, as portadas fechadas, o trânsito de automóveis é mínimo. Daqui a momentos, cairá a noite, assim, de repente, como uma cortina veloz, como acontece sempre em África. E depois, começam a surgir algumas luzes vagas, tremeluzindo numa encosta da montanha ou numa pequena curva da marginal. A essa hora já não haverá crianças nas ruas, e são poucos os mais velhos que se encontram de regresso às suas aldeias. A cidade vai adormecer e, a não ser que uma tempestade a acorde, a noite será sossegada até o dia raiar, muito cedo, muito luminoso, muito húmido.
Nesta cidade houve tempos de grandes poetas negros, mestiços, brancos. Como Caetano da Costa Alegre, que morreu jovem (1864-1890).
“Eu e os Passeantes”
Passa uma inglesa,
E logo acode,
Toda surpresa:
What black my God
Se é espanhola,
A que me viu,
Diz como rola:
Que alto, Dios mio
E, se é francesa:
O quel beau negre!
Rindo para mim.
Se é portuguesa
Ó Costa Alegre!
Tens um atchim!
terça-feira, 22 de setembro de 2009
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