terça-feira, 22 de setembro de 2009

Há uns anos, durante alguns meses, tive obrigatoriamente de fazer todos os dias um percurso de carro que começava às 8 horas e durava cerca de 40 minutos. Nesse tempo, ouvia a RDP África que a essa hora tinha um noticiário que incluía as intervenções dos correspondentes das capitais dos países africanos de língua portuguesa. Recordo-me que era sempre com grande expectativa que aguardava pelo correspondente de S.Tomé e Príncipe. Esta devia-se ao facto daquele correspondente, nos dez minutos que lhe eram destinados, ter de fazer um enorme esforço para dar notícias. Utilizava, no entanto, uma estratégia: falava devagar, pausadamente, fazia sempre referências a outras notícias dadas por outros correspondentes ou emitidas pela estação central e, finalmente, enaltecia um acontecimento ou episódio que, noutras circunstâncias, seria uma não notícia. Ele não tinha culpa. Mas, tirando uma reunião de dadores internacionais, a ameaça de mudança de governo que, afinal, era mais pacífica do que poderia parecer, alguma visita de um governante europeu - não muito assíduas e cuja substância também não era grande - , tudo junto não chegava para tornar o noticiário de S. Tomé e Príncipe imperdível. E, contudo, eu gostava de o ouvir. O ponto de vista do mundo a partir dali era relativamente tranquilo, havia um tempo de conversa deliciosamente lento que fazia com que, naqueles dez minutos de ligação às ilhas do Equador, o mundo repousasse numa quietude tropical. Um dia, houve um atropelamento por uma motorizada e recordo a exaltação do repórter a relatar as consequências que, segundo ele, teriam para a direcção geral de viação e, naturalmente para as famílias dos intervenientes daquele episódio que, por um dia, foi a manchete negra do noticiário africano.

apr

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